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Sexta-feira, 29 de Marco de 2024
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Não se engane: a diferença entre as ditaduras de direita das ditaduras de esquerda é… nenhuma

Confira a coluna de Marcelo Hollanda desta sexta-feira (19)

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Não se engane: a diferença entre as ditaduras de direita das ditaduras de esquerda é… nenhuma
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O jeito é apelar para o Supremo
Imagine a seguinte situação hipotética.

A campainha toca e dois policiais fardados estão do lado de fora com um papel expedido por um delegado de polícia.

Eles levam em mãos uma queixa de atentado ao pudor. É que uma vizinha do prédio em frente, de binóculo, flagrou alguém andando pelado pelo apartamento.

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Horrorizado com a queixa e principalmente com o fato de dois agentes públicos fardados estarem incomodando àquela hora da manhã, o morador mandou os PMs lamberem sabão.

Pronto, está configurado o desacato a autoridade e a prisão é em flagrante. O sujeito é levado para a penitenciária e 100 dias depois é descoberto por um defensor público.

Depois de ver seus apelos negados em duas instâncias da justiça , o caso vai parar no Supremo Tribunal Federal, onde finalmente é resolvido e o infeliz posto em liberdade.

Nada disso certamente aconteceria num prédio de classe média, mas na periferia aconteceu e com uma diarista, mãe de uma criança de cinco anos, acusada de furtar água da rua com um “gato” feito pelo marido.

Esta semana, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, revogou a prisão da coitada num caso macabro revelado pela BBC News Brasil depois que a defesa entrou com um habeas corpus na Suprema Corte.

A mulher, que tem 34 anos, está presa em uma penitenciária de Minas Gerais desde julho depois que funcionários da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) encontraram uma instalação clandestina feita pelo companheiro dela.

O caso só veio à tona porque uma defensora pública recebeu um bilhete da mulher contando o motivo da prisão e da preocupação dela por ter deixado o filho com uma irmã mais nova, que mora em outra cidade.

Mas o motivo para a prisão ia além do “roubo” da água. O gatilho foi a irritação dela durante a abordagem policial, quando teria tentado agredir um PM, razão pela qual foi algemada e colocada no camburão.

Mesmo depois de negar a agressão e atribuir ao companheiro o rompimento do lacre no cano de água, já que a família não tinha dinheiro para pagar a conta, teve jeito não.

Pior nisso tudo é que, antes do problema chegar ao Supremo, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais e o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) se negarem a libertar a diarista sob o argumento educativo de se tratar de uma reincidente. Aí já viu, vai para o banquinho dos desobedientes.

É assim que pobre é tratado no Brasil: dentro dos rigores da lei e dos conceitos da boa educação e do respeito à autoridade.

Moral da história: no dia que uma vizinha vasculhar seu apartamento com um binóculo, ficar horrorizada com a sua nudez, mandar a polícia na sua casa e você não tratar com cortesia os agentes e ficar mofando 100 dias na prisão, já sabe: apela para o Supremo.

Fusquinha preto
O ministro Alexandre de Moraes alegou desproporcionalidade da decisão ao mandar soltar a diarista avessa à autoridade policial. Isso lembra muito os filmes brasileiros antigos mostrando os fusquinhas pretos e brancos da “rapa” distribuindo pancada em nome da moral e dos bons costumes. É o tal negócio: manda quem pode e obedece quem tem juízo. E a saída, no caso, é o STF enquanto o presidente Jair Bolsonaro não conseguir introduzir ali mais uns 40% dele na Corte, já que ele só tem 10% na figura de Kássio Nunes Marques, sua única indicação até o momento.

Autoridade
Nos longínquos anos de 1970, quando os quartinhos da tortura reinavam impunes nas delegacias, fazendo até hoje com que seus titulares, meros bacharéis, sejam tratados de “doutor” pelos interlocutores, há uma boa noção de quem é autoridade no Brasil e de quem é apenas pobre. Como muito bandido, quando não é de colarinho branco, anda de bermuda, chinelo de dedo, bonezinho e é preto na maioria das vezes, pobre e bandido costumam estar associados ao mesmo balaio, pelo menos na cabeça de muitas pessoas “de bem” da sociedade.

Diferenças
A diferença entre as ditaduras de direita das ditaduras de esquerda é… nenhuma. Nelas, só a família, os amigos, a parentela e os agregados se dão bem. Sem contar que ditadura é muito melhor para governar porque não existe oposição e nem imprensa para encher o saco. E, é claro, a liberdade de expressão é total, mas só para quem é amigo do ditador. Pode-se até ter uma offshore em paraíso fiscal sendo ministro da Economia. Não é ótimo?

Caneta enorme
Uma vez instalado num partido político que seja seu, o presidente Jair Bolsonaro será o maior problema desse partido. Junto com o crescimento rápido da legenda, virão as imposições do marido ciumento, que não admite que a mulher vire o rosto para o lado. Quem sabe uma burca esse partido tenha que usar para agradar o novo macho alfa e dono daquela caneta enorme.

Bons tempos?
Nos tempos de Bolsonaro adolescente, fazia sucesso revistinhas de Carlos Zéfiro, com todas aquelas histórias picantes e desenhos de sexo. Zéfiro foi o pseudônimo Alcides Aguiar Caminha, funcionário público, que se dedicou a ilustrar e publicar durante 20 anos (1950 a 1970) quadrinhos (de sacanagem mesmo) conhecidos por “catecismos”. Imagine quem não deve ter sido um de seus leitores mais ilustres…

FONTE/CRÉDITOS: Marcelo Hollanda
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