Portal Correio do Agreste - A serviço do povo!

Sexta-feira, 04 de Outubro de 2024
REDECON
REDECON

Geral

COMO SUPERAR OS NOSSOS PRECONCEITOS

A importância de conhecer as suas limitações

Cotidiano Escolar
Por Cotidiano Escolar
COMO SUPERAR OS NOSSOS PRECONCEITOS
Silvana
IMPRIMIR
Espaço para a comunicação de erros nesta postagem
Máximo 600 caracteres.

Eu nasci em 1968, isso me deixava orgulhosa, um ano que o mundo jamais se esquecerá. Nasci na cidade de São Bernardo do Campo uma cidade singular na vida política brasileira.

Cresci no meio das greves, dos movimentos e das reivindicações que exigiam mudanças para o pais

As mudanças vieram, o tempo passou e me formei Professora de História. Ser professora fazia parte de meus sonhos de infância, mas a matéria seria matemática, até entrei na Faculdade Federal de São Carlos, SP, mas optei pelo curso de humanas.

Publicidade

Leia Também:

Defendia a participação da sociedade na construção da democracia e a inclusão de todos.

Achava que não tinha preconceitos, doce ilusão, mas a vida me mostrou a quanto a prática e a teoria para andarem juntas precisam de um esforço interno muito além do que se imagina. Há muitos conceitos e preconceitos construídos por séculos que estão cristalizados onde você nem espera.

Eu tive a oportunidade de trabalhar em um projeto que as escolas abriam aos finais de semana, com atividades para a comunidade.

Neste período eu conheci uma pessoa muito especial, que estava interessada em trabalhar no projeto, ele era pedagogo e poeta, estava qualificado para a vaga, ele se chamava André Herculano dos Santos. Havia uma peculiaridade, ele era cego.

Isso não o fez desistir, passou pelo processo de seleção e de perícia médica e foi aprovada, ele estava apto para a vaga. Fiquei muito feliz com a situação, ele iria trabalhar em alguma escola da cidade onde ele morava. Cidade vizinha a minha.

No dia da escolha ele optou por trabalhar onde eu trabalhava, lá ele conhecia a comunidade, os profissionais e se sentia mais seguro. Na hora o medo tomou conta de mim.

Toda a força que eu dei a ele passei a questionar. Como deixa-lo na escola sozinho? Como deixar as chaves do prédio com ele? Como deixar ele abrir e fechar a escola?

Neste momento eu conheci o meu pior lado, que não conhecia. E de verdade não gostei. Mas ele existia, estava lá e agora eu não tinha como fugir da situação.

Tinha consciência que iria travar uma briga interna e que não poderia sair do interno para não piorar as coisas.

Quando o André chegou para o seu primeiro dia de trabalho, foi tudo muito confuso; por mais que eu me esforçasse para mostrar a ele onde estavam as coisas e o explicasse como fazer o seu serviço, a insegurança me dominava. A credibilidade nele me questionava a todo instante, eu estava totalmente insegura e envergonhada. Eu nunca soube ou saberei se ele percebeu ou não os meus conflitos, mas estavam lá.

Ficamos juntos toda a manhã, haviam alunos e voluntários; chegou o horário de eu ir embora. E fui, mas confesso aqui que voltei à escola durante aquela tarde quatro vezes, circulei a quadra da escola para ver se estava tudo bem. Não entrei no prédio. Mas senti-me traindo os meus princípios.

No dia seguinte, um domingo, cheguei um pouco mais cedo que ele e para minha feliz surpresa os quadros de luz estavam com anotações em braile. Fiquei encantada e ainda mais envergonhada.

O tempo foi passando o processo de confiança aumentando e ele quebrando os meus preconceitos; após 3 meses de trabalho, em uma reunião de equipe eu de fato comecei a trata-lo como um membro de igual para igual e até discutimos e discordamos. Só aí naquele momento eu conseguiu de fato reconhecer que ele tinha plenas condições de ocupar aquela vaga.

Durante o tempo em que ele trabalhou na escola, não houve sumiço de nenhum material, o André ficava atento, parecia que via tudo, era muito caprichoso e eficiente.

Quando chegava qualquer pessoa e entrava na escola ele percebia, caso ele conhecesse a pessoa ele a chamava pelo nome, como ele identificava-as eu não sei; e se não conhecesse ia ao encontro dela para orientar em relação as regras da escola. E assim trabalhamos por quase dois anos.

Um dia depois de anos que deixamos de trabalhar juntos encontrei o André em um ponto de ónibus, parei para cumprimenta-lo, cheguei perto e falei. Olá amigo, quanto tempo, que saudades. Na hora ele me abraçou e me chamou pelo nome, ele me reconheceu automaticamente pela minha voz.

Hoje o André não está mais entre nós. Com ele aprendi que para deixar os preconceitos precisamos conscientemente trabalhar o que existe de pior dentro de nós.

Gratidão André, você me ensinou a ser menos arrogante e reconhecer as minhas limitações.  https://youtu.be/AXMLEFGRyMY

Silvana Barboza

Mestre em Políticas Públicas; Especialista em Gestão; Pedagoga; Professora de História e estudante de Neuropsicopedagogia e Criadora de Conteúdo no You Tube do Canal ALOCSE 

Comentários:
Cotidiano Escolar

Publicado por:

Cotidiano Escolar

Lorem Ipsum is simply dummy text of the printing and typesetting industry. Lorem Ipsum has been the industry's standard dummy text ever since the 1500s, when an unknown printer took a galley of type and scrambled it to make a type specimen book.

Saiba Mais
JATOBÁ
JATOBÁ
REDEC
REDEC

Crie sua conta e confira as vantagens do Portal

Você pode ler matérias exclusivas, anunciar classificados e muito mais!

Envie sua mensagem, estaremos respondendo assim que possível ; )